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Aula inaugural do Programa de Pós-graduação em Enfermagem aborda a Saúde e as Ciências da saúde em tempos de austeridade

PÚBLICO Professores, alunos e demais profissionais de saúde lotaram o Salão Nobre da Faculdade de Medicina, na última quinta-feira, 16 de agosto, para a aula inaugural do Programa de Pós-graduação em Enfermagem sobre o tema: “A saúde e as ciências da saúde em tempos de austeridade: renovados desafios locais e globais”, ministrada pelo professor Maurício Lima Barreto, do Instituto Gonçalo Moniz, da Fundação Oswaldo Cruz da Bahia.

De acordo com a coordenadora do Colegiado de Pós-graduação em Enfermagem, professora Kênia Lara Silva, o tema da aula inaugural ajuda a refletir sobre as condições de saúde que se modificam ao longo do tempo em função dos processos de desenvolvimento econômico, político, social e cultural das diferentes sociedades. “Vivemos, atualmente, um contexto muito desafiante das questões relativas à saúde do nosso país. Nos últimos anos, a diminuição do investimento e do financiamento no campo da saúde tem repercussões e impactos que a gente ainda não pode prever na sua completude. Porém, já conseguimos identificar uma tendência de alteração dos quadros de mortalidade da população brasileira, que tendem a se agravar quando temos uma redução do financiamento para as ações de prevenção, de promoção e para as ações mais estruturantes que podem impactar diretamente na qualidade de vida da população e, consequentemente, no perfil de adoecimento. Dessa forma, temas como as políticas sociais e a Saúde Coletiva, hoje, são fundamentais justamente porque nos permitem refletir sobre a relação entre as condições sociais gerais e os quadros de adoecimento da população”, explicou a professora.

Kenia e ChicoKênia ainda destacou que, do ponto de vista da Pós-graduação em Enfermagem, há uma perspectiva que os novos alunos tenham uma série de reflexões e debates sobre os elementos que estão tangenciando o campo da saúde. “Esses debates que ocorrerão ao longo do curso nos ajudarão a ampliar a visão sobre a inserção da Pós-graduação enquanto um espaço de definição e de formação de novos pesquisadores, mestres e doutores, que vão poder intervir com mais qualidade na saúde da população”, enfatizou.

Durante a palestra, o professor Maurício Lima Barreto falou sobre os problemas no campo da saúde, no cenário brasileiro atualmente, os desafios existentes, os riscos das políticas de austeridade que estão afetando não só a saúde, mas também a pesquisa em saúde.

“As políticas sociais têm grandes efeitos na saúde. E nós, do campo da saúde, temos que participar ativamente, em produzir conhecimento, relacionar isso com os acontecimentos e com os reflexos que tem para as condições de saúde. Na crise atual que estamos vivendo, por exemplo, existe um aumento de mortalidade infantil e aumento de mortalidade materna que atinge o sistema de saúde. Porém, essa crise atinge também toda a cadeia de suporte que a sociedade oferece aos seus membros, e entender que a saúde está ligada diretamente à sociedade é essencial para qualquer pesquisador da nossa área”, elucidou.

Segundo Maurício, a humanidade enfrenta uma série de grandes e complexos desafios, como por exemplo, envelhecimento populacional, urbanização, migrações, doenças não comunicáveis, novas epidemias, resistência bacteriana, mudança climáticas, entre outros. "Todos esses desafios estão cercados por um outro grande número de problemas como: imensas desigualdades sociais e na saúde, globalização com políticas de austeridade e modelo de Ciência e Tecnologia (C&T) em saúde ineficiente e insustentável".

O professor enfatizou que a desigualdade é uma questão central, porque muda, multiplica e torna ainda mais grave o estado de saúde. “A solução do problema de saúde passa por uma redução das desigualdades. Então essa é uma luta permanente que precisamos ter. É impossível atingir níveis desejáveis de saúde em uma sociedade desigual”, explicou Maurício.

Mauricio BarretoEle destacou, ainda, que para ocorrer uma redução prática e efetiva das desigualdades e melhorias na saúde, primeiro precisa haver uma compreensão da sociedade de que tudo aquilo que ela faz precisa ser o mais equânime possível. “Temos alguns exemplos de políticas que tentam fazer isso, como por exemplo, o Sistema Único de Saúde (SUS) que é um projeto que busca dar a todos os indivíduos da sociedade brasileira o acesso ao sistema de saúde. É uma política de equidade e, se ele for desenvolvido, maturado, ampliado, contribui para a redução das desigualdades. Dessa forma, acredito que há um conjunto completo de políticas sociais que precisam ser feitas para que ocorra essa melhora efetiva na saúde e a redução das desigualdades”.

Maurício concluiu dizendo que as instituições, os programas e os pesquisadores em ciências da saúde devem ser preparados para acompanhar e participar das rápidas e necessárias transformações do campo. "A missão maior é produzir conhecimento, inovação e tecnologias que contribuem para estruturação do SUS e da melhoria das condições de saúde da população, com equidade. Conhecer sobre os efeitos das políticas e intervenções sociais e suas complexas relações com a saúde é tão necessário quanto entender o universo da biologia e dos mecanismos moleculares das doenças. As novas práticas de ciência e o treinamento de novos pesquisadores devem ocorrer em um ambiente interdisciplinar, aberto, integrativo, cooperativo e que associem perspectivas locais e globais dos problemas", relatou.