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Crianças com autismo têm dia de vacinação contra a covid-19 com atividades lúdicas e de integração sensorial

Crianças de 5 a 11 anos, com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), foram vacinadas contra a Covid-19 nesta quarta-feira, 9 de fevereiro, no Laboratório de Integração Sensorial (LAIS), espaço interdisciplinar adaptado sensorialmente, com o objetivo de viabilizar e humanizar a vacinação.

Em uma parceria inédita, a ação “Vacina Bem” foi realizada na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG (EEFFTO), no campus Pampulha. Foi promovida pelo Programa de Atenção Interdisciplinar ao Autismo (Praia) e Programa de Educação Tutorial (PET Lazer), vinculados à EEFFTO e à Fafich, Programa Primeira Infância Plena e pelo projeto de extensão do Polo de Vacinação contra a Covid-19, ambos da Escola de Enfermagem

As famílias atendidas se depararam com um ambiente bem preparado para recebê-las, foram oferecidos acolhimento para os responsáveis e para as crianças, orientação visual e sensorial, além de atividades lúdicas de integração sensorial e brinquedos.

Vacinação autistasA ação Vacina bem foi realizada na EEFFTO

A idealizadora da ação, professora Maria Luísa Nogueira, do Departamento de Psicologia da Fafich, destaca a importância de preparar uma rotina de vacinação mais respeitosa com os desafios que as pessoas com autismo têm e a necessidade da interdisciplinaridade que o autismo exige. “É fundamental ter uma intimidade com a diferença e intervenção transdisciplinar. Reunimos professores e alunos da Psicologia, Terapia Ocupacional, Educação Física e Enfermagem. Esse evento é muito importante porque muitas famílias que têm crianças com autismo não tinham conseguido ainda fazer a vacinação dessas crianças, pelas especificidades que essa condição traz. Esperamos que essa ação sirva de inspiração para outros lugares”, diz ela.

Segundo a professora Ana Amélia Cardoso, do Departamento de Terapia Ocupacional da EEFFTO, coordenadora do PRAIA, uma agulhada que para uma criança típica não seria tão incômoda, para uma criança autista pode gerar mais ansiedade, comportamentos de birra ou de crise. “A nossa ideia é promover um momento com algumas brincadeiras e estímulos sensoriais, para que essa criança fique mais organizada e tranquila. Temos também a história social, explicando para criança tudo o que vai acontecer, por que é muito importante para a criança com autismo essa antecipação. Porque geralmente as crianças chegam em uma sala, sentam ali e já saem espetando. Então aqui é tudo explicadinho, inclusive com imagens, para as crianças entenderem”.

Além disso, ela ressalta a importância do evento para as famílias e crianças com autismo. “Esse momento é importante, porque além da insegurança que os pais já estão em relação a vacina, infelizmente ainda há muitas fake news. Então os pais estão inseguros em relação a qualidade da vacina, junta com aquela insegurança de não saber como que o filho vai se comportar, como que ele vai aceitar a vacinação, então pelo menos um dos problemas a gente tenta minimizar com essa campanha”.

A professora da Departamento de Enfermagem Maternoinfantil e Saúde Pública da EEUFMG, Delma Simão, coordenadora do Programa Primeira Infância Plena, destaca que a integração sensorial é importante para todas as crianças desde o nascimento. “Toda criança precisa passar por esse processo de organização sensorial: visão, tato, olfato, paladar, equilíbrio. Particularmente, a criança com transtorno do espectro autista ou de outras condições, têm uma dificuldade nessa integração, por isso a intervenção precoce é tão importante, por que ela trabalha o cérebro da criança para que ela funcione de uma forma mais adequada ao momento que ela está vivendo. Essa nossa ação é exatamente para isso, para preparar essa criança para receber essa vacinação de uma forma menos traumática e mais adaptada ao contexto de vida que eles têm”.

Aprovação dos pais e das crianças
escorreagorA técnica de enfermagem Verônica Xavier, mãe do Mário, de 6 anos, disse que já tinha conhecimento sobre o PRAIA e que pelo fato do filho ter muita resistência à vacina e injeção, resolveu levá-lo. “Foi incrível ver ele mesmo levantar a manga da camisa para tomar vacina e ainda sair sorrindo, quando vai tomar vacina no posto normal, chega até arranhar o braço dele, de tanto que ele esperneia, chora, e aqui não. Se tivesse as vacinas de rotina aqui também, com certeza iríamos sempre”, comemorou ela.

Para Damares Araújo, mãe do Cainã, de 11 anos, a ação ajudou a tornar o momento da vacinação em algo ainda mais singular. “Tinha que acontecer sempre, principalmente para as crianças com autismo, porque elas estão acostumadas com um certo ambiente e chegar em um ambiente diferente para elas é mais complicado. Estar no ambiente que ela já conhece, conhece as pessoas, sabem como é que vai ser, tem brincadeira, torna a vacinação divertida”. O Cainã destacou que a vacina faz bem para a saúde e ficou encantado com brinquedos e peixes da ação sensorial. “Teve peixe palhaço, raia e muito mais. Nem doeu”.

Poliana Laila Nascimento, mãe do Gabriel, de 5 anos, ressaltou que já tinha levado o filho em dois postos de saúde e teve dificuldades. Ela destaca que organização e agilidade são muito importantes para os familiares de crianças com autismo. “O Gabriel é impaciente, não consegue ficar muito tempo em filas esperando, fica agitado e nervoso. Achei muito legal essa questão do projeto aqui da UFMG, porque facilitou ser um horário agendado, não ter fila e, além disso, a questão das brincadeiras que eles têm aqui, que deixam o ambiente mais divertido”.

Durante a ação, mais de 50 crianças foram vacinadas. A segunda dose será aplicada no dia 6 de abril, também com cadastro prévio, que em breve será divulgado.